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quinta-feira, 30 de julho de 2015

Leitura.

Até hoje eu não sabia o que falar. Não sabia o que escrever, não é expressável com palavras.
A única certeza que tenho é que não sou a mesma, não foi tão seguro quanto o "Chega! Pra mim chega, mudei!" mas foi repentina, esmagadora e definitiva a mudança, desde o dia 12 de setembro de 2014 mais ou menos, quando aconteceu pela primeira vez.
Acho que ainda não sei bem como contar com palavras, mas vou tentar...

Nesse dia (à noite) eu estava lendo o poema "Esta noite morrerás" da Ana Hatherly para a leitura dramática sobre a obra de Raul Cruz, no Teatro Guaíra. Eu tinha acabado de perder o chão, mais uma vez, e esse poema pulsava em mim e parecia que minha cabeça iria se desprender do meu corpo e flutuar. Eu não achava que era o que devia sentir, não estava entendendo o poema e queria entendê-lo, de verdade. Então olhei para o céu à procura da Lua. Sabia que estava cheia, mas graças ao céu nublado de Curitiba não a encontrei, e pensei: "enquanto meus olhos estiverem nublados não vou conseguir enxergar nada que seja belo. Por que aquele desgraçado embaçou meus olhos de novo?" Anotei mais ou menos o que estava pensando e chorei.
A Lua estava lá, só não era possível vê-la, assim também é o mar à noite, assim é o amor. Senti de repente um cheiro de incenso e fumaça (fósforo queimado, sei lá) e sei o que esses cheiros repentinos significam... "Não posso ver a Lua, assim como não posso ver você, Raul. Sei que está aí, emanando energia, refletindo o Sol, dançando com as estrelas. Quero que esta dor passe, ou então me juntar a você logo..." Sem perceber, estava orando para a Lua, para Raul Cruz, para Deus? Quando a angústia passou, li novamente o texto e dormi.
Sonhei que era uma estrela vermelha, escura, brincando com centenas de estrelas coloridas, até que a Lua me soprou um vento frio... Senti meus pés esfriarem, os dedos das mãos também, e assim fui morrendo, sentindo o frio me dominar pouco a pouco, até que chegou ao peito e parou de avançar. Todas aquelas estrelas que brincavam e dançavam comigo assistiam agora minha luta contra a morte e nenhuma podia ajudar. Fui ficando negra como a noite e a luz vermelha que agora só reluzia do meu peito estava quase apagada, então a Lua me tocou, a luz vermelha em mim se apagou. Dois segundos depois explodi presenteando o céu com dezenas de estrelas novas. olhei para a Lua, confusa, e ela sorriu pra mim.
Depois dessa noite, me flagro até hoje orando à Lua, pedindo que ela me toque e acabe de uma vez com essa agonia de morte e esse frio que me perseguem.
No dia 16, quando realizamos a leitura dramática para o público no Guaíra, senti novamente aquele cheiro de incenso e fumaça e por mais estranho que pareça, foi como um abraço terno que durou até o momento dos aplausos, quando me percebi no mundo real e senti como se aqueles aplausos fossem as dezenas de estrelas que a morte (de todos nós que estávamos no palco e por trás dele) gerou.
Quando saí do Teatro olhei para o céu sem nuvens com intenção de agradecer à Lua e quando a vi, quase explodi de alegria! Ela estava lá, enorme, minguante... sorrindo pra mim!